Musicalização
Dalcroze: Explora todos os modos de aprendizagem: auditivo, kinestésico, visual. Busca melhor coordenação entre olhos, ouvidos, mente e corpo. Euritmia = bom movimento: não há som sem movimento
Kodály: Desenvolve ouvido interno; solfejo relativo; alfabetização musical
Orff: Aprendizado pela atividade criativa; música elemental (canto, fala, movimento, ritmo, dança) - método holístico
Suzuki: Aprendizado pela imersão e pela identificação com os pais, mestres e amigos - papel preponderante da família
Aspectos teóricos/leitura/escrita
Dalcroze: Introduzidos tardiamente; deve-se deixar a partitura de lado assim que aprendemos a peça. Quem lê não internaliza, pois focalisa apenas o visual. Solfejo relativo e fixo.
Kodály: Introduzidos desde cedo, com leitura e escrita. Solfejo relativo. Inicia com grupos (d-r, d-r-m, etc.), depois trabalha a escala pentatônica, e só depois os outros modos
Orff: Aprender fazendo; só depois se lê
Suzuki: Aprender escutando; só depois se lê
Execução
Dalcroze: Qualquer que seja o instrumento, deve-se interagir com a partitura, e não apenas reagir; a repetição mecânica faz perder a concentração. É preciso haver sempre desafio, experimentação, criação. Pequenas variações mantêm a atenção - se a partitura diz “forte”, vamos experimentar vários níveis de forte. Assim pode-se ter uma prática que dá prazer. Uma das principais tarefas do professor é ensinar o aluno a estudar, a criar bons hábitos para sua prática diária.
Kodály: Privilegia a voz cantada; só se vai ao instrumento depois de saber cantar. Ênfase na consciência da melodia e da harmonia, associando sempre o solfejo à execução. Atenção ao ouvido interno.
Orff: Todo tipo de percussão (palmas, pés, tambores) e instrumentos Orff; voz falada.
Suzuki: Visa a boa interpretação musical no instrumento (violino), buscando expressar sentimento e coloridos sutis desde as primeiras peças.
Composição/improvisação
Dalcroze: Improvisação com movimentos corporais, depois com sons
Kodály: Improvisação através do solfejo, desde os primeiros grupos d-r-m
Orff: Improvisação com palavras e rimas
Suzuki: Variações sobre os temas são apresentadas como modelos
Repertório inicial
Dalcroze: Variado, com uso de improvisação (som e movimentos) pelo professor e alunos
Kodály: Folclore húngaro, em uníssono ou a duas e três vozes
Orff: Rimas, provérbios, canções de roda ou populares, palavras, danças, folclore
Suzuki: Peças clássicas e/ou folclóricas
Estruturação do método
Dalcroze: Euritmia - método estruturado, com lições detalhadas e exercícios sugeridos
Kodály: Sistematizou material folclórico, com arranjos bem cuidados e gradação minuciosa das peças; mas não criou propriamente um método pedagógico
Orff: Schulwerk - não criou um método, mas reuniu vasto material de trabalho
Suzuki: Sistematizou os princípios de aprendizagem da língua materna e adaptou-os à educação musical
Aspectos psicológicos
Dalcroze: Manter o interesse através da criatividade (pro-active attitude) e da ludicidade; explorar a gestalt da música; organizar e energizar (otimizar) o tempo de prática do aluno, criando objetivos específicos (setting goals) - assim, ao final do estudo, o aluno se sente tendo atingido uma meta.
Kodály: Identificação com a “língua musical nativa” (o folclore simbolizando o país, a terra, as origens); empenho em manter vivas e valorizadas as tradições nacionais.
Orff: Valorização da experiência sobre a intelectualização; trabalho em grupo cooperativo; a recompensa pelo aprendizado é o próprio prazer do processo de aprender.
Suzuki: Motivação e identificação com os pais, professores e colegas (ambiente de aprendizagem colaborativa).
Objetivos-chave
Dalcroze: integrar o movimento corporal na vivência musical e na performance, tornando-a mais expressiva.
Kodály: alfabetizar musicalmente toda a população húngara e resgatar (ou valorizar) a canção folclórica do país .
Orff: sensibilizar todas as crianças para a música (criação e audição), mostrando um caminho de conhecimento e prazer através da experiência musical pessoal.
Suzuki: desenvolver talentos, formar músicos instrumentistas excepcionais.
Palavras-chave
Dalcroze: Movimento corporal
Kodály: Voz cantada
Orff: Voz falada
Suzuki: Talento
Vemos que existem vários pontos comuns aos autores estudados:
- A integração da música com outras formas de expressão, como a linguagem falada e a dança (principalmente em Dalcroze e Orff)
- A analogia com a linguagem, não só como expressão artística, mas também quanto ao processo de aprendizado (Kodály fala em “língua musical materna” referindo-se ao folclore)
- Partem de material já familiar à criança, valorizando o material sonoro que ela já conhece previamente e criando vínculos de associação entre este material e novas idéias musicais (construtivismo)
- A prática vem sempre antes da teoria - mesmo para Kodály, que dá grande importância aos aspectos da alfabetização, só se lê ou escreve o que já foi cantado
- O movimento e o corpo são inseparavelmente integrados ao fazer musical
- A motivação, o prazer, os aspectos lúdicos do aprendizado passam a ser valorizados e considerados fatores fundamentais na educação
- Tendência à democratização, à laicização, à dessacralização da música. Procura-se não excluir ninguém, proporcionando ao maior número possível de pessoas o acesso ao universo da música: a música é para todos. Suzuki tinha visão ligeiramente diferente - achava que todos podiam ser talentosos, bastava desenvolver. Mas dava muita importância à excelência da execução
- Valorização dos processos de aprendizagem, mais do que dos resultados (todos exceto Suzuki, que dá grande importância aos resultados do aprendizado musical).
Considerações Finais
Do quadro comparativo estudado, podemos inferir que há mais pontos de contato do que de conflito entre os quatro autores. Queremos lembrar que entre as revolucionárias mudanças citadas na introdução deste trabalho está o desenvolvimento dos sistemas de comunicação e transporte, que já começavam a permitir que as idéias cruzassem rapidamente as fronteiras de seus países. A informação começava a ser compartilhada globalmente. As inter-relações entre o fazer pedagógico destes quatro educadores e todo o contexto histórico, político, social e econômico em que viveram são assunto tão fascinante quanto impossível de explorar dentro do escopo deste trabalho.
A destacar como influência no pensamento dos autores estudados estão principalmente a psicanálise com Freud, a teoria cognitiva com Piaget e a pedagogia com Bruner e Dewey.
Um ponto fundamental é o reconhecimento da criança enquanto ser “visível”, dotado de características próprias, e não um projeto de adulto, ou um adulto incompleto. A psicanálise estuda os acontecimentos da infância e os aponta como origem de possíveis neuroses futuras; passa-se a levar em conta, na pedagogia, as etapas de desenvolvimento cognitivo, procurando-se estimular cada fase apropriadamente; compreende-se cada vez mais a importância do afeto, da motivação, da brincadeira na educação infantil e na construção de um universo adulto mais rico e saudável.
Trechos do Trabalho Dalcroze, Orff, Kodály, Suzuki. Semelhanças, diferenças, especificidades - Diana Goulart Fonte: http://www.dianagoulart.com/Canto_Popular/Educadores.html
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