O apreço
pela cultura pianística nasceu juntamente com o país, no período próximo à sua
independência. A prática da música sacra em igrejas e capelas, principal
ambiente de produção musical até então, perdeu espaço para novas propostas
musicais que chegavam da Europa, principalmente após o retorno de Dom João VI a
Portugal. O ideal liberal disseminado neste período propiciou a entrada do piano
na cultura, instrumento símbolo de uma burguesia que buscava afirmação na
sociedade (ESPERIDIÃO, 2003, p. 92).
Pouco
depois, Francisco Manuel da Silva (1795-1865) fundou a Sociedade Beneficência
Musical em 1833, primeira organização política brasileira em defesa da classe
dos músicos. O passo seguinte foi a fundação do Imperial Conservatório de Música
do Rio de Janeiro em 1841 [6], a primeira
instituição nacional dedicada ao ensino formal de Música (ESPERIDIÃO, 2001,
p.409-410). Assim, as conquistas de Silva foram essenciais para a
profissionalização dos músicos no país, que agora dispunham de uma escola à
imagem do então moderno Conservatório de Paris.
Com relação
ao piano, sua presença no país dependia em princípio dos investimentos da elite,
pois os instrumentos eram importados, sinal que o mercado de construção de
pianos no Brasil era restrito. No início do século XX, com a entrada de capital
no país devido à atividade cafeeira, houve uma melhora no padrão de vida da
classe média, que passou a adquirir pianos (FUCCI AMATO, 2008, p.171). Assim, a
presença deste instrumento na sociedade motivou a demanda por profissionais,
abrindo portas para o professor particular, criação de lojas de música e
organização de saraus, recitais e concertos (FUCCI AMATO, 2004, p.27-29).
Nesta época,
o ensino de piano era um elemento prioritariamente atribuído à educação
feminina, providenciando prestígio social com a aquisição de um diploma provindo
de instituição renomada. Ainda, poderia ser um recurso extra para dotes
matrimoniais, contribuindo para a renda familiar através de aulas. Porém, esta
situação não era exclusiva do cenário nacional. Na Europa, a educação pianística
era utilizada sob os mesmos motivos: “O piano adquiriu proeminência na vida
musical do final do século XVIII porque tocá-lo tornou-se uma realização
necessária à crescente classe feminina” (PARAKILAS, 2001, p.76). Logo, o
instrumento tornou-se um elemento de diferenciação social, com sua prática
relacionada a classes sociais materialmente ricas e politicamente privilegiadas.
No século
XX, o piano atingiu seu momento de maior reconhecimento no país, graças à
carreira internacional das pianistas Guiomar Novaes (1896-1979) e Magda
Tagliaferro (1893-1991). A repercussão de seu sucesso incentivou muitos jovens a
estudar o instrumento, e esta demanda incentivou a criação de conservatórios em
todo o país. Dessa forma, o piano tornou-se o instrumento mais presente nessas
instituições.
Fonte: Daniel Lemos Cerqueira*
*Daniel Lemos Cerqueira é técnico em Piano pela Academia de
Música Lorenzo Fernandez, na classe da profa. Maria Luísa Urquiza Lundberg,
Bacharel em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na classe do
prof. Miguel Rosselini e Mestre em Performance pela mesma instituição, orientado
pela Dra. Ana Cláudia de Assis e como aluno de piano do prof. Dr. Maurício
Veloso. Como pianista solo e camerista, apresentou-se a em diversas salas de
concerto do Brasil. Participou de festivais e cursos de interpretação com Celina
Szrvinsk, Luís Senise, Fany Solter, Michael Uhde, Ricardo Castro e Fernando
Corvisier, sendo laureado em concursos de interpretação instrumental. Foi
professor Substituto de Piano na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), e
trabalha atualmente como professor Assistente na Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), dedicando-se à docência em Piano e pesquisa em Performance,
Educação Musical, Pedagogia do Piano, Computação Musical e Música Popular.
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