O construtivismo na educação é
algo a ser construído, reunindo várias tendências atuais do pensamento
educacional. Percebe-se então, a insatisfação com o modelo educacional ainda
centrado em paradigmas no fazer repetir, decorar, recitar e aprender o que já
está pronto, em vez de agir, operar, criar e construir a partir da realidade
vivida por professores e alunos.
Segundo Becker (1994, p.92) entende-se como Construtivismo
”a idéia de que nada, a
rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é
dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela
interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com
o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por
qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que
podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito
menos, pensamento."
A aprendizagem ocorre especialmente bem, quando
construímos ativamente algo externo a nós. Segundo Piaget[4],
há quatro estágios básicos do desenvolvimento cognitivo: o sensório-motor (do
nascimento aos 2 anos), o pré-operacional (dos 2 aos 7 anos), o estágio das
operações concretas ( dos 7 a 12 anos), o estágio das operações formais (dos 12
anos em diante).
Em síntese para Piaget (1986, p. 129), o
desenvolvimento mental da criança surge
”como sucessão de três grandes construções, cada uma
das quais prolonga a anterior, reconstruindo-a primeiro num plano novo para
ultrapassá-la em seguida, cada vez mais amplamente. Isto já é verdadeiro em
relação à primeira, pois a construção dos esquemas sensório-motores prolonga e
ultrapassa a das estruturas orgânicas no curso
da embriogenia. Depois as construções das relações semióticas dos
pensamentos e das conexões interindividuais interioriza os esquemas de ação,
reconstruindo-os no novo plano de representação e das estruturas de cooperação.
Enfim, desde o nível de 11-12 anos o pensamento formal nascente reestrutura as
operações concretas, subordinando as estruturas novas, cujo prolongamento se
desdobrará durante a adolescência e toda a vida ulterior ( com muitas outras
transformações ainda)”.
Por volta dos 12 anos começa o estágio das operações formais.
Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente
passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que habilita à
experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos
abstratos e raciocinar sobre hipóteses.
Na visão de Papert, ele vai mais além, não aceitando
abandonar o concreto em favor do pensamento abstrato, ele vê o pensamento
concreto com objetos concretos favorecendo o conhecimento que não estariam
acessíveis de outra maneira.
Fazendo uma abordagem sobre o Construcionismo, Franceschini,(2003,
p.10) explica:
“Como
o construcionismo surgiu a partir do construtivismo, seria interessante verificar
como se deu essa evolução.A teoria de aprendizagem desenvolvida por Seymour
Papert e seus colaboradores no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts),
em Cambridge, Massachusetts (EUA), recebeu o nome de Construcionismo.Embora
Piaget e Papert tenham desenvolvido suas teorias a partir da observação do
comportamento de crianças e de suas atividades de aprendizagem, Papert, em
especial, acredita que esses resultados sejam igualmente aplicáveis a
adultos.Papert chamou sua teoria de construcionismo, porque incluía tudo que
estava associado ao construtivismo de Piaget, mas ia além dele, afirmando que a
aprendizagem construtivista acontece especialmente bem quando as pessoas estão
engajadas na construção de um produto, algo externo a elas como um castelo de
areia, uma máquina, um programa de computação ou um livro.Quando as pessoas
constroem coisas no mundo exterior, elas simultaneamente constroem teorias e
conhecimentos na mente. Esses novos conhecimentos lhes permitem construir
coisas ainda mais sofisticadas no mundo exterior, o que produz ainda mais
conhecimentos, e assim por diante, num ciclo que se auto-reforça.”
Para Santomé (1998) “só
as questões interessantes e motivadoras, que podem ser problemáticas para a
pessoa, tem a possibilidade de gerar conflitos cognitivos e, consequentemente,
aprendizagens.”
O uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação na sala de aula é
uma forma de potencializar a aprendizagem. Os programas da LEGO®,
considerados como estas tecnologias, oferece um aprendizado mais envolvente,
criativo e motivador e tem se tornado um aliado dos educadores durante o
processo de ensino-aprendizagem. Esta tecnologia que a principio pode parecer
uma brincadeira, oportuniza a contemplação dos quatro pilares da educação: Aprender a ser numa busca do
autoconhecimento, autoestima, pensamento crítico e criatividade; Aprender a aprender que representa a descoberta
do prazer de conhecer, compreender, construir e reconstruir; Aprender a conviver que compreende o desenvolvimento
da percepção de interdependência, respeito e valorização do próximo; e o Aprender a fazer refletindo no desenvolvimento
de habilidades e competências que resultem na aplicação da tecnologia.
“são sustentados pelo aprender- fazendo, pois fazem
com que os alunos não fiquem parados na sala de aula. Há sempre muita
interação, jogos, charadas, desafios de montagens avançadas e o incentivo para
pesquisas nos textos muito bem elaborados dos fascículos, os quais sugiro- como
professor que utiliza essa ferramenta de aprendizagem há cinco anos - que sejam
lidos pelos próprios estudantes em sala, no início de algumas aulas do
bimestre.”
...“segundo o psicólogo e pedagogo Jean Piaget, as
informações com as quais se trabalha na escola, na maioria das vezes, não são
respostas às necessidades e curiosidades das crianças. Conforme afirma o
teórico, o organismo humano não assimila com facilidade qualquer informação
oferecida. Ainda que essa possa ser armazenada durante algum tempo, se não
estiver ligada ao interesse do aluno, não provocará modificações que permitam
sua incorporação (acomodação)” (LONGO, 2011, p.8)
O psicólogo Reuven Feuerstein[5]
acredita que o baixo rendimento escolar dos alunos tem origem na utilização
ineficiente por parte deles de funções cognitivas que dão suporte ao funcionamento
cognitivo adequado. Defende que a modificabilidade cognitiva estrutural é a
teoria que descreve a capacidade que o organismo humano possui de mudar a
estrutura de seu funcionamento. Essa teoria considera a inteligência como um
processo dinâmico de autorregulação capaz de dar respostas aos estímulos
ambientais.
Para Feuerstein é possível modificar a inteligência das
pessoas e melhorar seu potencial de aprendizagem em qualquer momento da vida.
Defende que os determinantes proximais (carência de aprendizagem sistematizada,
baixo poder aquisitivo) e distais (fatores genéticos, orgânicos, ambientais)
produzem nas pessoas problemas graves de desenvolvimento cognitivo, mas não
irreversíveis.
Como produto de suas pesquisas, Feuerstein desenvolveu um
instrumento para avaliar dinamicamente o potencial de aprendizagem das pessoas,
o LPAD. Este programa objetiva desenvolver e aperfeiçoar as funções cognitivas
deficientes, denominado Programa de Enriquecimento Instrumental – PEI e criar um
tipo de interação ativa entre as pessoas e as diversas fontes de estimulação
que se intitula Experiência de Aprendizagem Mediada – EAM
A LPAD preocupa-se com a avaliação das funções cognitivas de
uma pessoa, que indicam sua possibilidade de modificação cognitiva. Assim, Feuerstein
parte da premissa básica: que no momento do
diagnóstico, que configura também um momento de aprendizagem, não se procura
descobrir apenas qual é o desempenho atual da pessoa, mas principalmente
verificar suas condições latentes para modificar-se cognitivamente.
O PEI é uma estratégia de intervenção psicoeducacional, cujos
objetivos são: corrigir funções cognitivas deficientes; adquirir conceitos
básicos, vocabulário e operações mentais; desenvolver motivação intrínseca;
criar certo nível de pensamento reflexivo e desenvolver a percepção. O PEI não
está direcionado a nenhum componente curricular específico como Matemática,
Ciências.
Pesquisas sinalizam que o funcionamento cognitivo de uma
pessoa pode ser afetado em três momentos: ao receber informações, ao
processá-las e ao passá-las adiante.
Para desenvolver o PEI, Feuerstein adotou a Experiência de Aprendizagem Mediada - EAM,
que também é utilizada na metodologia LEGO®, sobre essa fonte de estímulo, a
mediação, (FORTES e MACHADO, 2009, p.10) ressaltam:
“mediação é um processo
de interação entre uma pessoa (mediado), com funções cognitivas deficientes ou
insuficientemente desenvolvidas, e outra pessoa (mediador), com bastante
experiência e a intenção de modificar ou aperfeiçoar essas funções..A EAM
consiste em dirigir perguntas, cuidadosamente planejadas, às pessoas e
trabalhar suas respostas de modo a desenvolver, corrigir ou aperfeiçoar as funções
cognitivas, num clima democrático de interação. Essas perguntas ajudam a
definir problemas, refletir, interferir, comparar, elaborar hipóteses, extrair
regras e princípios, adquirir conceitos básicos e motivação intrínseca.”
”duas são as formas de aprendizagem humana, experiência direta de
aprendizado, que é a interação do organismo e o meio ambiente e experiência
mediada de aprendizagem que requer a presença e a atividade de um ser humano
para organizar, selecionar, interpretar e elaborar aquilo que foi
experimentado. A EAM sustenta que os fatos ambientais e aqueles relacionados ao
organismo são determinantes distais do desenvolvimento cognitivo (causando
respostas diferenciadas em relação ao meio ambiente), enquanto a EAM constitui
o determinante proximal que influencia o desenvolvimento cognitivo estrutural e
o potencial da adaptabilidade e da modificabilidade através da experiência. Para
que a EAM aconteça, um mediador, intencionalmente, deve colocar-se entre o
estímulo e a resposta do aprendiz, com a intenção de mediar o estímulo ou a
resposta do aprendiz”.
Para Ferreira (2011, p. 01),
o pensamento do estudante pode estagnar de várias maneiras e em várias
fases, tanto na fase de entrada de informação, quanto na fase de
desenvolvimento da mesma ou na fase de sua análise, síntese e comunicação. O
importante é saber que a mediação intencional pode ajudar os estudantes a
reestruturar seu pensamento e melhorar a sua capacidade de aprender.
A Teoria Feuersteniana não considera que fatores endógenos[6]
ou exógenos[7], possam
colocar um ponto final no aprendizado humano. Fatores distais[8]
como déficit de atenção sempre são desorganizadores e estão presentes na
condição do aluno com mau funcionamento cognitivo.
Enfatiza-se porém, que o desenvolvimento cognitivo pode acontecer à partir
de uma interação mediada, que Feuerstein denomina Experiência de Aprendizagem
Mediada - EAM, que a ferramenta LEGO® utiliza essa mediação em suas aulas.
Essa mediação é realizada pelo professor estimulando e modificando essa
situação, instigando, ouvindo idéias e opiniões, negociando conflitos, fazendo
questionamentos, organizando, conduzindo os alunos à aquisição de
conhecimentos, rompendo paradigmas educacionais e cognitivos através do
aprender/ fazendo (lúdico).
Com a metodologia da LEGO®, objetiva-se ensinar Ciências e Tecnologia
utilizando o NXT que é um bloco programável que utiliza um cabo USB o qual
permite receber a programação feita pelos alunos via computador/interface. O
NXT se acopla aos protótipos permitindo que os mesmos realizem as situações/problema
propostas. Acompanha uma maleta composta por elementos de construção (eixos, vigas,
polias, engrenagens, sensores de luz, som, toque e ultrassom e motores
acopláveis) que propiciam a construção física do protótipo.
Acompanham também fascículos
ilustrados que apresentam textos referentes aos conteúdos transversais
estudados, bem como o passo a passo das montagens, sugerem pesquisas e desafios
propostos na atividade, favorecendo assim um acréscimo nos saberes embasado na
ludicidade.
(Fonte: A Tecnologia da Lego Education no Aprendizado Lúdico de Ciências - NETTO, Suely Dau PUCPR/ MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro PUCPR)
[1]Empiristas, segundo( BECKER, p.90) são aqueles que pensam que o conhecimento acontece porque nós vemos,
ouvimos, tateamos etc., e não porque agimos. O conhecimento será, então,
sensível no começo, abstrato depois.
[2]Aprioristas segundo (BECKER,
p. 90) são todos aqueles que pensam que o conhecimento acontece em cada
indivíduo porque ele traz já, em seu sistema nervoso, o programa pronto. O
mundo das coisas ou dos objetos tem função apenas subsidiária: abastece, com
conteúdo, as formas existentes a priori (determinadas previamente).
[3] Construtivismo é uma das correntes teóricas empenhadas em
explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do princípio de que
o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o
indivíduo e o meio.
[4]Jean Piaget, em sua teoria, explica como o indivíduo, desde o seu
nascimento, constrói o conhecimento. Sua teoria chamada de Epistemologia Genética
ou Teoria Psicogenética é a mais conhecida concepção construtivista da
formação da inteligência.
[5] Criador da Teoria da
modificabilidade cognitiva estrutural (MCE), a teoria da Experiência da
Aprendizagem Mediada (MLE), e o Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI)
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