quinta-feira, 10 de maio de 2012

A DAMA DA MÚSICA (JOGO)

O jogo nasceu da observação da falta de prática e conhecimento dos músicos em geral em relação à
transposição de tonalidades musicais, uma atividade importantíssima para qualquer músico, sobretudo para os músicos populares. Por exemplo, um violonista do cantor Zeca Pagodinho obviamente sabe tocar as músicas do repertório desse artista no tom em que ele canta. Mas, durante
um show, se a cantora Marisa Monte estiver na platéia e for convidada pelo Zeca Pagodinho para dar “uma canja” em sua música, ela falará para o violonista o tom no qual ela canta essa música – que possivelmente é diferente do tom em que o Zeca Pagodinho canta – e o violonista terá de saber transpor o tom da música. Caso contrário, a cantora não conseguirá cantar ou cantará apenas alguns trechos que seu registro vocal alcança. Se o músico Caçulinha não fosse um exímio transpositor de tonalidades, certamente não teria sobrevivido todos esses anos como tecladista do programa “Domingão do Faustão”, onde, muitas vezes, há improvisos de cantores cantando músicas que não são suas em tonalidades diversas.
Acredita-se que a falta de conhecimento e habilidade em transpor tons musicais é devido a isso ser um objeto de conhecimento da teoria musical a que os músicos práticos não têm acesso, de um modo geral. Outro fato inconteste que colabora, e muito, para essa situação é que a transposição de tonalidades em si não é uma atividade prazerosa, nem trivial, portanto, é muito evitada. Os músicos gostam de executar a
música, e a transposição de tonalidade musical é uma atividade essencialmente mental. De fato, a execução da música em um novo tom é apenas o resultado da transposição do tom já realizada mentalmente.
A Dama da Música é jogada no mesmo tabuleiro do jogo de Damas e do Xadrez. E a movimentação das peças é igual a do jogo de Damas.
O jogo começa em um determinado tom. Um jogador joga com os graus e o outro com as notas da escala desse tom2. Como são 12 peças para cada um, mas a quantidade de graus e de notas de uma escala musical é apenas 7, quem joga  com os graus dispõe de 2 peças únicas com os graus II e VII
e 5 duplicadas com os graus restantes (I, III, IV, V, VI).
Quem joga com as notas musicais obedece à mesma regra. As notas que correspondem aos graus II e VII, no tom inicial do jogo, têm apenas uma peça cada, enquanto as demais possuem duas peças cada.
O tom inicial do jogo pode ser escolhido por meio de um acordo entre os jogadores ou de um sorteio. Cada tom está disposto em uma carta e, ao todo, são 12 cartas. Depois de escolhido o tom do jogo, cada jogador escolhe uma carta (um tom) para si. Explicaremos a utilização dessas cartas mais adiante.
Cada jogador começa o jogo com 8 peças titulares(dispostas no tabuleiro) e 4 peças reservas (fora do tabuleiro).
As peças podem ser substituídas como num jogo de futebol e cada jogador tem o direito de efetuar até quatro substituições em uma partida. A substituição de uma peça por outra reserva deve ser feita pelo jogador apenas quando estiver na sua vez de jogar. As peças reservas de quem joga com os graus são as duas I, a peça II e a VII. Já as reservas de quem joga com as notas são as que correspondem aos graus das peças reservas de quem joga com os graus no tom que se inicia o jogo. Ou seja, se o jogo começa no tom de Dó Maior, então as peças reservas de quem joga com as notas serão duas de dó (nota correspondente ao grau I da escala de Dó Maior), uma de ré(nota correspondente ao grau II da escala de Dó Maior) e uma de si (nota correspondente ao grau VII da escala de Dó Maior). Todas as outras peças dos dois jogadores estarão dispostas no tabuleiro da mesma forma que num jogo de Damas tradicional, sendo que somente as duas primeiras fileiras dos territórios de cada jogador estarão ocupadas – já que as outras peças estão como reservas. A arrumação, a ordem das peças dentro dessas duas fileiras, bem como todas as demais configurações estão expressas na Figura 41, onde o tom inicial é Dó Maior e as cartas dos jogadores são as de Lá
Maior e Ré Maior.

O jogo

Cada peça só pode capturar a sua adversária correspondente no tom do jogo. Por exemplo, se o jogo é no tom de Dó Maior, a peça I (grau 1) só pode capturar a adversária dó e vice-versa, a peça II, somente a ré e viceversa. E assim por diante.
Dessa forma, o jogo fica diferente da Dama tradicional, pois se nela uma peça pode capturar qualquer uma das 12 adversárias, agora, uma peça só pode capturar, no máximo, duas correspondentes. Às vezes, algumas jogadas (possíveis no jogo de Damas) ficam impossibilitadas pela não correspondência entre o grau de uma peça e a nota da outra no tom em que o jogo está. Nesses casos, os jogadores podem recorrer à transposição de tom e/ou a substituição de uma peça por outra para tornar a jogada possível.
A transposição do tom do jogo só pode ser realizada uma única vez por cada jogador durante uma partida, para o tom indicado na carta de posse do jogador que fará essa transposição e na sua vez de jogar. Por exemplo: um dos jogadores quer capturar a peça adversária ré com uma peça I, mas como o jogo está no tom Dó Maior, isso não é possível(nesse tom a peça ré só pode ser capturada com a II). Mas ele tem a carta do tom de Ré Maior, então muda o tom do jogo para Ré Maior e captura a peça do adversário (no tom de Ré Maior, a nota ré é o grau I).
Antes de mudar o tom do jogo, o jogador deve ter em mente que isso tem conseqüências em todo o jogo e não somente na jogada que ele quer fazer. Primeiro, porque cada jogador só pode mudar o tom do jogo uma só vez e não mais durante todo o restante da partida. E segundo, porque todas as
relações entre as peças adversárias (relações de correspondência entre graus e notas) se modificam, não somente as relações das peças que participam da jogada.
Geralmente, o jogador iniciante só percebe isso na prática, quando é prejudicado por sua própria transposição de tom, possibilitando uma jogada ofensiva do adversário em outra região do tabuleiro. Mas com a prática, o jogador aprende a estrutura da transposição de tonalidades, percebendo que
quando muda a correspondência de uma peça, muda a correspondência de todas as outras na mesma proporção e, assim, torna-se um jogador melhor.
Ao invés de “gastar” a transposição da tonalidade do jogo para capturar uma peça adversária, o jogador também pode mudar o tom do jogo por causa de outra situação que requeira essa manobra.
Depois de mudado o tom, o jogo prossegue no tom para o qual foi mudado, e o tom inicial da partida já não pode mais voltar ao jogo. Essa partida, então, só poderá sofrer mais uma mudança de tom, e essa mudança é para o tom da carta do jogador que ainda não transpôs o tom do jogo.
Em uma jogada mais sofisticada, pode-se transpor o tom do jogo e substituir uma ou mais peças de uma só vez.
É válido “comer para trás”. Mas não vale o “sopro 3".
O jogador é obrigado a capturar uma peça adversária se essa possibilidade existe no tom vigente e com as peças titulares.
Nesse caso, ele não poderá se valer da carta nem das substituições para fugir dessa obrigação.Quando o tom do jogo for transposto para outro, as peças de quem joga com as notas musicais terão que ser
“sustenizadas” ou “bemolizadas” de modo que retratem a realidade do novo tom. Por exemplo: se o jogo for transposto de Dó Maior para Ré Maior (escala: ré, mi, fá#, sol, lá, si,dó#) por qualquer um dos jogadores, então, as peças fá e dó serão “sustenizadas”. Isso em nada desfavorece qualquer um
dos jogadores; é apenas uma regra didática que em nada influencia o jogo em si.
Ganha o jogo quem fizer a primeira dama. Ou seja, o objetivo do jogo já não é mais capturar todas as peças adversárias, como no jogo de Damas, e sim conseguir levar uma peça até a linha de fundo do adversário. Por isso o nome do jogo é no singular: A Dama da Música.

Autor do Jogo - Leandro Demenciano Costa (PUC/RIO 2005)

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