domingo, 29 de janeiro de 2012

2. CONSTRUTIVISMO, CONSTRUCIONISMO E A APRENDIZAGEM MEDIADA NA EDUCAÇÃO



O construtivismo na educação é algo a ser construído, reunindo várias tendências atuais do pensamento educacional. Percebe-se então, a insatisfação com o modelo educacional ainda centrado em paradigmas no fazer repetir, decorar, recitar e aprender o que já está pronto, em vez de agir, operar, criar e construir a partir da realidade vivida por professores e alunos.

Segundo Becker (1994, p.92) entende-se como Construtivismo


                                            a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento."


             Muitas vezes quando questionados sobre como recebemos o conhecimento, mesmo sem termos consciência, respondemos de forma empirista[1] ou apriorista[2]. Observa-se que ambos propõem uma visão passiva de conhecimento, já o construtivismo[3] concebe o conhecimento como um agente transformador desde sua gênese e desenvolvimento até um novo modo de ver a vida, o mundo, o universo e todas as relações humanas.

A aprendizagem ocorre especialmente bem, quando construímos ativamente algo externo a nós. Segundo Piaget[4], há quatro estágios básicos do desenvolvimento cognitivo: o sensório-motor (do nascimento aos 2 anos), o pré-operacional (dos 2 aos 7 anos), o estágio das operações concretas ( dos 7 a 12 anos), o estágio das operações formais (dos 12 anos em diante).

Em síntese para Piaget (1986, p. 129), o desenvolvimento mental da criança surge

”como sucessão de três grandes construções, cada uma das quais prolonga a anterior, reconstruindo-a primeiro num plano novo para ultrapassá-la em seguida, cada vez mais amplamente. Isto já é verdadeiro em relação à primeira, pois a construção dos esquemas sensório-motores prolonga e ultrapassa a das estruturas orgânicas no curso  da embriogenia. Depois as construções das relações semióticas dos pensamentos e das conexões interindividuais interioriza os esquemas de ação, reconstruindo-os no novo plano de representação e das estruturas de cooperação. Enfim, desde o nível de 11-12 anos o pensamento formal nascente reestrutura as operações concretas, subordinando as estruturas novas, cujo prolongamento se desdobrará durante a adolescência e toda a vida ulterior ( com muitas outras transformações ainda)”.

Por volta dos 12 anos começa o estágio das operações formais. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que habilita à experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.

Na visão de Papert, ele vai mais além, não aceitando abandonar o concreto em favor do pensamento abstrato, ele vê o pensamento concreto com objetos concretos favorecendo o conhecimento que não estariam acessíveis de outra maneira.

          Fazendo uma abordagem sobre o Construcionismo, Franceschini,(2003, p.10) explica:

“Como o construcionismo surgiu a partir do construtivismo, seria interessante verificar como se deu essa evolução.A teoria de aprendizagem desenvolvida por Seymour Papert e seus colaboradores no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em Cambridge, Massachusetts (EUA), recebeu o nome de Construcionismo.Embora Piaget e Papert tenham desenvolvido suas teorias a partir da observação do comportamento de crianças e de suas atividades de aprendizagem, Papert, em especial, acredita que esses resultados sejam igualmente aplicáveis a adultos.Papert chamou sua teoria de construcionismo, porque incluía tudo que estava associado ao construtivismo de Piaget, mas ia além dele, afirmando que a aprendizagem construtivista acontece especialmente bem quando as pessoas estão engajadas na construção de um produto, algo externo a elas como um castelo de areia, uma máquina, um programa de computação ou um livro.Quando as pessoas constroem coisas no mundo exterior, elas simultaneamente constroem teorias e conhecimentos na mente. Esses novos conhecimentos lhes permitem construir coisas ainda mais sofisticadas no mundo exterior, o que produz ainda mais conhecimentos, e assim por diante, num ciclo que se auto-reforça.”



Para Santomé (1998) “só as questões interessantes e motivadoras, que podem ser problemáticas para a pessoa, tem a possibilidade de gerar conflitos cognitivos e, consequentemente, aprendizagens.”

O uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação na sala de aula é uma forma de potencializar a aprendizagem. Os programas da LEGO®, considerados como estas tecnologias, oferece um aprendizado mais envolvente, criativo e motivador e tem se tornado um aliado dos educadores durante o processo de ensino-aprendizagem. Esta tecnologia que a principio pode parecer uma brincadeira, oportuniza a contemplação dos quatro pilares da educação: Aprender a ser numa busca do autoconhecimento, autoestima, pensamento crítico e criatividade; Aprender a aprender que representa a descoberta do prazer de conhecer, compreender, construir e reconstruir; Aprender a conviver que compreende o desenvolvimento da percepção de interdependência, respeito e valorização do próximo; e o Aprender a fazer refletindo no desenvolvimento de habilidades e competências que resultem na aplicação da tecnologia.

           
           Para Longo (2011, p.9) os programas da LEGO®,

“são sustentados pelo aprender- fazendo, pois fazem com que os alunos não fiquem parados na sala de aula. Há sempre muita interação, jogos, charadas, desafios de montagens avançadas e o incentivo para pesquisas nos textos muito bem elaborados dos fascículos, os quais sugiro- como professor que utiliza essa ferramenta de aprendizagem há cinco anos - que sejam lidos pelos próprios estudantes em sala, no início de algumas aulas do bimestre.”  



           Afirma ainda que

...“segundo o psicólogo e pedagogo Jean Piaget, as informações com as quais se trabalha na escola, na maioria das vezes, não são respostas às necessidades e curiosidades das crianças. Conforme afirma o teórico, o organismo humano não assimila com facilidade qualquer informação oferecida. Ainda que essa possa ser armazenada durante algum tempo, se não estiver ligada ao interesse do aluno, não provocará modificações que permitam sua incorporação (acomodação)” (LONGO, 2011, p.8)



O psicólogo Reuven  Feuerstein[5] acredita que o baixo rendimento escolar dos alunos tem origem na utilização ineficiente por parte deles de funções cognitivas que dão suporte ao funcionamento cognitivo adequado. Defende que a modificabilidade cognitiva estrutural é a teoria que descreve a capacidade que o organismo humano possui de mudar a estrutura de seu funcionamento. Essa teoria considera a inteligência como um processo dinâmico de autorregulação capaz de dar respostas aos estímulos ambientais.

Para Feuerstein é possível modificar a inteligência das pessoas e melhorar seu potencial de aprendizagem em qualquer momento da vida. Defende que os determinantes proximais (carência de aprendizagem sistematizada, baixo poder aquisitivo) e distais (fatores genéticos, orgânicos, ambientais) produzem nas pessoas problemas graves de desenvolvimento cognitivo, mas não irreversíveis.

Como produto de suas pesquisas, Feuerstein desenvolveu um instrumento para avaliar dinamicamente o potencial de aprendizagem das pessoas, o LPAD. Este programa objetiva desenvolver e aperfeiçoar as funções cognitivas deficientes, denominado Programa de Enriquecimento Instrumental – PEI e criar um tipo de interação ativa entre as pessoas e as diversas fontes de estimulação que se intitula Experiência de Aprendizagem Mediada – EAM

A LPAD preocupa-se com a avaliação das funções cognitivas de uma pessoa, que indicam sua possibilidade de modificação cognitiva. Assim, Feuerstein  parte  da premissa básica: que no momento do diagnóstico, que configura também um momento de aprendizagem, não se procura descobrir apenas qual é o desempenho atual da pessoa, mas principalmente verificar suas condições latentes para modificar-se cognitivamente.

O PEI é uma estratégia de intervenção psicoeducacional, cujos objetivos são: corrigir funções cognitivas deficientes; adquirir conceitos básicos, vocabulário e operações mentais; desenvolver motivação intrínseca; criar certo nível de pensamento reflexivo e desenvolver a percepção. O PEI não está direcionado a nenhum componente curricular específico como Matemática, Ciências.

Pesquisas sinalizam que o funcionamento cognitivo de uma pessoa pode ser afetado em três momentos: ao receber informações, ao processá-las e ao passá-las adiante.

Para desenvolver o PEI, Feuerstein adotou a Experiência de Aprendizagem Mediada - EAM, que também é utilizada na metodologia LEGO®, sobre essa fonte de estímulo, a mediação, (FORTES e MACHADO, 2009, p.10) ressaltam:


                                   “mediação é um processo de interação entre uma pessoa (mediado), com funções cognitivas deficientes ou insuficientemente desenvolvidas, e outra pessoa (mediador), com bastante experiência e a intenção de modificar ou aperfeiçoar essas funções..A EAM consiste em dirigir perguntas, cuidadosamente planejadas, às pessoas e trabalhar suas respostas de modo a desenvolver, corrigir ou aperfeiçoar as funções cognitivas, num clima democrático de interação. Essas perguntas ajudam a definir problemas, refletir, interferir, comparar, elaborar hipóteses, extrair regras e princípios, adquirir conceitos básicos e motivação intrínseca.”



            Ainda sobre a EAM, Souza (2004) afirma que,

”duas são as formas de aprendizagem humana, experiência direta de aprendizado, que é a interação do organismo e o meio ambiente e experiência mediada de aprendizagem que requer a presença e a atividade de um ser humano para organizar, selecionar, interpretar e elaborar aquilo que foi experimentado. A EAM sustenta que os fatos ambientais e aqueles relacionados ao organismo são determinantes distais do desenvolvimento cognitivo (causando respostas diferenciadas em relação ao meio ambiente), enquanto a EAM constitui o determinante proximal que influencia o desenvolvimento cognitivo estrutural e o potencial da adaptabilidade e da modificabilidade através da experiência. Para que a EAM aconteça, um mediador, intencionalmente, deve colocar-se entre o estímulo e a resposta do aprendiz, com a intenção de mediar o estímulo ou a resposta do aprendiz”.

             Para Feuerstein, "isto é mediação no sentido de que a situação (estímulos e respostas) é modificada pela intensidade da qualidade, pelo contexto, pela freqüência e pela ordem e, ao mesmo tempo, desperta, no indivíduo, a vigilância, a consciência e a sensibilidade."

             Para Ferreira (2011, p. 01),

o pensamento do estudante pode estagnar de várias maneiras e em várias fases, tanto na fase de entrada de informação, quanto na fase de desenvolvimento da mesma ou na fase de sua análise, síntese e comunicação. O importante é saber que a mediação intencional pode ajudar os estudantes a reestruturar seu pensamento e melhorar a sua capacidade de aprender.



A Teoria Feuersteniana não considera que fatores endógenos[6] ou exógenos[7], possam colocar um ponto final no aprendizado humano. Fatores distais[8] como déficit de atenção sempre são desorganizadores e estão presentes na condição do aluno com mau funcionamento cognitivo.

Enfatiza-se porém, que o desenvolvimento cognitivo pode acontecer à partir de uma interação mediada, que Feuerstein denomina Experiência de Aprendizagem Mediada - EAM, que a ferramenta LEGO® utiliza essa mediação em suas aulas.

Essa mediação é realizada pelo professor estimulando e modificando essa situação, instigando, ouvindo idéias e opiniões, negociando conflitos, fazendo questionamentos, organizando, conduzindo os alunos à aquisição de conhecimentos, rompendo paradigmas educacionais e cognitivos através do aprender/ fazendo (lúdico).

Com a metodologia da LEGO®, objetiva-se ensinar Ciências e Tecnologia utilizando o NXT que é um bloco programável que utiliza um cabo USB o qual permite receber a programação feita pelos alunos via computador/interface. O NXT se acopla aos protótipos permitindo que os mesmos realizem as situações/problema propostas. Acompanha uma maleta composta por elementos de construção (eixos, vigas, polias, engrenagens, sensores de luz, som, toque e ultrassom e motores acopláveis) que propiciam a construção física do protótipo.


Acompanham também fascículos ilustrados que apresentam textos referentes aos conteúdos transversais estudados, bem como o passo a passo das montagens, sugerem pesquisas e desafios propostos na atividade, favorecendo assim um acréscimo nos saberes embasado na ludicidade.
(Fonte: A Tecnologia da Lego Education no Aprendizado Lúdico de Ciências - NETTO, Suely Dau PUCPR/ MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro PUCPR)


[1]Empiristas, segundo( BECKER, p.90)  são aqueles que pensam que o  conhecimento acontece porque nós vemos, ouvimos, tateamos etc., e não porque agimos. O conhecimento será, então, sensível no começo, abstrato depois.
[2]Aprioristas segundo (BECKER, p. 90) são todos aqueles que pensam que o conhecimento acontece em cada indivíduo porque ele traz já, em seu sistema nervoso, o programa pronto. O mundo das coisas ou dos objetos tem função apenas subsidiária: abastece, com conteúdo, as formas existentes a priori (determinadas previamente).
[3] Construtivismo é uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio.
[4]Jean Piaget, em sua teoria, explica como o indivíduo, desde o seu nascimento, constrói o conhecimento. Sua teoria chamada de Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética é a mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência.
[5] Criador da Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE), a teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada (MLE), e o Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI)
[6]  Fatores internos que afetam o indivíduo de dentro para fora.
[7]  Fatores externos que afetam o indivíduo de fora para dentro.
[8]  Fatores antecedentes que agem de maneira indireta sobre o desfecho.

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