terça-feira, 20 de março de 2012

MÚSICA E NEUROCIÊNCIAS

ARTIGO - Mauro Muszkat*
                  Cleo M. F. Correia**
                  Sandra M. Campos***




RESUMO
O artigo analisa a relação da música com as neurociências, particularmente a organização cerebral das funções musicais. Os estudos de neuroimagem funcional revelam que a lateralização e a topografia da ativação cerebral durante o estímulo musical relacionam-se a múltiplos fatores, como familiaridade ao
estímulo, estratégia cognitiva utilizada para o reconhecimento melódico, rítmico e tímbrico e mesmo treinamento musical prévio. A relação entre a música e as mudanças na atividade elétrica cerebral é sugerida a partir dos casos da chamada epilepsia musicogênica, das descrições das manifestações “musicais” de crises parciais psíquicas ou dos relatos anedóticos de mudanças dos padrões eletrencefalográficos interictais durante a audição de músicas de Mozart.


SUMMARY
Music and Neurosciences.
This article discusses the relationships between music and neuroscience particularly the brain organization of musical functions. Functional imaging studies found that lateralization and topography of brain activation depend on multiple factors such as familiarity to musical stimuli, cognitive strategy evolving melodic, rhythmic and timbre perception and previous musical
training. Changes in brain electrical activity is suggested by musicogenic epilepsy, through phenomenological descriptions of partial seizures with “musical” symptoms and anedoctical reports of changes of interictal activity induced by listening to Mozart music.

KEYWORDS
Music, brain function, functional brain asymmetry.


INTRODUÇÃO
O tema que iremos discorrer é sobre as várias faces entre música e neurociência, principalmente no que tange à importância dos estudos em relação à organização cerebral das chamadas funções musicais. O interesse crescente nas pesquisas da relação música e cérebro, a meu ver, são reflexo de dois fatores. O primeiro relaciona-se à introdução recente de novas técnicas de neuroimagem, como a tomografia com emissão de pósitrons (TEP) e a ressonância magnética funcional (RMF), que permitem “visualizar” as mudanças funcionais e topográficas da atividade cerebral durante a realização de funções mentais complexas1,2,3,4. Assim, já é possível estudar as mudanças regionais do fluxo sangüíneo do metabolismo e da atividade elétrica cerebral durante tarefas de natureza cognitiva, como, por exemplo, enquanto um indivíduo processa estímulos sonoros, sejam estes meros sons puros senoidais, ruídos, padrões rítmicos ou mesmo “música”, em sua acepção ampla. O interesse pela música relaciona-se ou reflete uma mudança de paradigma, que está ocorrendo tanto nas ciências humanas como nas ciências biológicas, e insere-se no terreno da interdisciplinaridade, no qual as especializações dão lugar às fronteiras e à unificação de áreas, antes seccionadas do conhecimento como as ciências e as artes. Neste contexto, não é de surpreender o crescente interesse na pesquisa das intricadas relações entre a “música” e a medicina, com ênfase à fisiologia, à neurologia e à psiquiatria.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante que os trabalhos de música em neurociências surjam da interação multidisciplinar de
músicos, musicoterapeutas, neurologistas, neurofisiologistas, possibilitando a ampliação de nossos
horizontes em uma prática que integra profissionais que antes tinham suas atividades seccionadas. Isso pode permitir uma comunicação mais eficiente, inclusive em nível musical e estético propriamente dito, com doentes em busca de contato, isolados da comunicação por suas disfunções cerebrais e mentais. A busca de melhores correlações da música com a função cerebral irá exigir
um trabalho multidisciplinar que considere a própria estrutura musical na formulação metodológica dos trabalhos. Tal intento poderá levar inclusive à criação de músicas, específicas para determinadas situações de disfunção neurológica, baseadas nos registros e na variabilidade dos próprios sinais biológicos tempodependentes, como, por exemplo, a atividade elétrica cerebral. O esforço de trazer a música para as ciências de saúde poderá representar, por um lado, a transcendência de uma prática musical hedonista baseada apenas no ouvir-prazer e, por outro, a ampliação da visão da própria neurociência, para além do enfoque racionalista, que negligencia o subjetivo e o relativo expresso nas artes.


* Médico Neuropediatra e Doutor em
Neurologia, EPM – Unifesp.
** Musicoterapeuta e Mestra em Neurociências,
EPM – Unifesp.
*** Musicoterapeuta.

 MUSZKAT, M.; CORREIA, C.M.F. & CAMPOS, S.M. – Música e Neurociências
Rev. Neurociências 8(2): 70-75, 2000 


Para visulização completa desse artigo: www.unifesp.br/dneuro/neurociencias/Neurociencias%2008-2.pdf


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