quinta-feira, 12 de abril de 2012

ATENÇÃO VISUAL É DIFERENTE EM MÚSICOS?


Os músicos possuem características cerebrais, tanto anatômicas quanto funcionais, que não
são encontradas em não-músicos e que estão relacionadas com a idade de início dos estudos
musicais (Baeck, 2002). Muitas pesquisas neurológicas descrevem modificações no córtex cerebral
de músicos decorrentes dos vários anos de prática musical.
De acordo com Schlaug
et al. (1995a), o plano temporal esquerdo – porção bem definida do córtex auditivo – é maior em
músicos em relação aos não-músicos. Os mesmos pesquisadores descobriram diferenças em outro
substrato neuro-anatômico, o corpo caloso (região anterior), que também é maior em músico
(Schlaug et al.,1995b). As diferenças em tais estruturas cerebrais são evidentes principalmente em
músicos que iniciaram os estudos musicais nos primeiros anos da infância. Um outro estudo mostrou
que, em indivíduos do gênero masculino, o volume médio do cerebelo é maior em músicos do que
em não músicos (Schlaug, 2001). Em relação às características funcionais do cérebro, pesquisas
também mostram diferenças entre os dois grupos. De acordo com um estudo de Elbert et al. (1995),
os dedos da mão esquerda de violinistas possuem uma maior representação no córtex sensorial
primário do que os dedos da mão esquerda de indivíduos pertencentes ao grupo controle. Este
achado correlacionou-se com a idade na qual os estudos de violino começaram. Um estudo de
Pantev et al. (1998) demonstrou que músicos possuem uma maior representação cortical auditiva do
que não músicos.
A força total de ativação cortical, que reflete o número de neurônios envolvidos na
resposta, foi 25% maior em músicos do que no grupo controle. Curiosamente, este resultado foi
verificado apenas quando o estímulo auditivo consistia em tons tocados no piano. Para tons puros,
mesmo que de mesma freqüência e intensidade, não foi observada diferença significativa entre
músicos e não-músicos em relação à ativação cortical. Tal descoberta, de uma maior representação
cortical auditiva nos músicos, correlacionou-se também com a idade na qual os estudos musicais
começaram: quanto mais jovem, maior o efeito.
Os estudos anteriormente citados indicam a existência de uma reorganização cortical como
resultado do treinamento musical. Tal reorganização, por sua vez, poderia produzir diferenças
comportamentais entre músicos e não-músicos no que se refere a capacidades cognitivas, incluindo
as de percepção e/ou motoras.

 Música e Cognição:a atenção visual é diferente em músicos e não-músicos?
Ana Carolina Oliveira e Rodrigues
Leonor Bezerra Guerra
Maurício Alves Loureiro
Escola de Música / Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Minas Gerais

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