terça-feira, 24 de abril de 2012

JAMES BLAKE

 Adolescente prodígio, fera do piano, estudioso das harmonias pop, esse inglês de 22 anos quis, um dia, fazer um remix de "A Milli", de Lil Wayne, que destacasse a tristeza da voz do rapper escondida por trás de tanta marra. Acabou saindo com um inesperado hit para as pistas mais alternativas. Mais à frente, começou a gravar suas próprias canções, levado por sua paixão por Joni Mitchell, Stevie Wonder e r&b. O resultado chegou às lojas há poucas semanas, depois de quase um ano de muita expectativa. Blake descobriu, então, que seu disco de estreia, muito elogiado, estava sendo alardeado como um marco do dubstep, o soturno e ondulante som que bomba nas noites londrinas - embora, entre suas dez faixas, não exista uma música sequer que seja boa para dançar.
O fenômeno Blake não é isolado. Cada vez mais artistas se encontram fazendo música a partir de micropartículas de outros estilos - espalhados pela internet e capturados em velhos discos de vinil. Embrulha daqui, sacode dali, mistura tudo no laptop e pronto, lá está alguma coisa que não era para soar assim, mas ficou ótimo da mesma forma. "James Blake", o disco, é isso: um tiro no escuro, que acerta o alvo ingenuamente, quase sem querer.



http://youtu.be/6xRb9fjwJlA 

No caso de Blake, como no de tantos outros, o que pesa e o que conta é o contexto. Quando os Stones e o Led Zeppelin tocavam blues e r&b, no início da carreira, estavam tentando soar como seus ídolos, mas eram ingleses e suas referências, bem como o seu ambiente, eram outras. Por isso, acabaram criando um som tão original. Blake vai pelo mesmo caminho.
Pianista a partir dos 6 anos, ele cresceu ouvindo jazz e música clássica. Num salto no tempo, entrou para a universidade para estudar música popular. Ao mesmo tempo, passava as noites nas mais cascudas festas de dubstep em Londres. Quando misturou tudo isso, Blake criou sua própria versão dos fatos.
Seu som é baseado em sua voz - muitas vezes modificada e com efeitos sutis - e em seu piano. Suas músicas, como "Lindsfarne" e "To care (Like you)", trazem uma sensação de doce melancolia, adornada por batidas minimalistas. O dubstep só é lembrado pelas potentes linhas de baixo que são levemente sentidas, como o reflexo de uma tsunami que aconteceu a quilômetros de distância. Espiritual como um disco de soul deve ser, "James Blake" é o retrato de um artista deslocado, imprevisível e, talvez por isso mesmo, brilhante.
http://oglobo.globo.com/cultura/o-pianista-classico-james-blake-recicla-soul-music-brilha-em-seu-disco-de-estreia-2812057

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