sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

7) MÚSICA COMO ESTIMULADORA DO PROCESSO COGNITIVO

         Como havia dito no outro tópico, a música sempre fez parte da nossa vida, mesmo antes dele nascer, já ouvia música, eu cantava para ele quando ainda dentro de mim... Uma vez por semana após seu nascimento, ele tinha contato com a música de uma forma mais direta, ouvindo músicas próprias para sua faixa etária, utilizando a ludicidade, nos departamentos infantis de nossa igreja; portanto música fazia parte do cotidiano de sua vida.
         Portanto a música foi utilizada como estimuladora e dinamizadora do processo cognitivo, de integração e harmonização do ambiente domiciliar, escolar e social, numa ligação intrínsica que o estimulava a cada dia. A sua  grafia era ruim por causa da dificuldade na coordenação motora fina, mas depois da era da computação sua escrita ficou normal(bendita tecnologia!) e seu vocabulário  bastante rico.
          Percebemos também que ao cantar as dificuldades com os encontros consonantais eram bem atenuados, diferente no falar.
          Participou de vários recitais , tocando piano e cantando no coral da escola de música que tínhamos no interior do estado.
          Suas dificuldades na escola eram mais com o "bulling" dos colegas, do que com as provas, e para enfrentar isso tinha acompanhamento psicológico....ele apenas necessitava de mais tempo para realizar as tarefas, exercícios e provas.
          Na lógica matemática as dificuldades de aprendizagem se evidenciaram, mas a repetição dos exercícios o ajudavam bastante, aliás, entendeu que para conseguir chegar em seus objetivos teria de ter uma dose extra de boa vontade, repetir..repetir....recuar...para transpor o obstáculo.  Na graduação para fazer provas de matemática financeira, uma professora particular o  assistia em casa, repetindo os exercícios propostos.
          A memória visual, visomotora e visoespacial também ficaram comprometidas... isso se evidenciou quando aos 21 anos quiz fazer sua carteira de habilitação, pois o irmão já estava na idade de fazê-la e isso o estimulou demais(desejava muito isso!), explicamos que seria difícil ele conseguir por vários fatores.....mas insistiu que desejava tentar....na legislação foi tudo bem...mas no psicotécnico não foi possível....e enfrentou a frustração....
          Em 2005 graduou-se em Administração com ênfase em Marketing pela Unibrasil e trabalha como auxiliar administrativo numa grande empresa de educação de Curitiba.
          Como é funcionário classificado como "deficiente", mesmo com graduação superior, trabalha das 8:30h às 18h e tem 1:30h de almoço, só seu salário não é compatível a sua graduação, mas sim de acordo com suas deficiências...
          Sua última avaliação foi em 2005 quando graduou-se e necessitava de um Relatório de Avalição Neurológica para iniciar seu trabalho, o neurologista que o atendeu desde 1988 relatou:
           ...Observei as seguintes dificuldades:
- Na linguagem expressiva (disartria)
- Na motricidade fina (disgrafia) e motricidade global (equilíbrio)
- Na memória visual, visomotora, visoespacial;
- No raciocínio lógico da matemática;
- Nas funções cognitivas que interferem na organização do pensamento.
  Apresenta comprometimento global das funções cerebrais que dificultam uma aprendizagem normal.

   Gostaria de esclarecer que dentre os fatores de risco,que aumentam a probabilidade de déficits no desenvolvimento motor,o nível socioeconômico da família é um fator que pode interferir no desenvolvimento.

 SegundoVictora et al (1992) algumas pesquisas evidenciaram a importância dos fatores
socioeconômicos na determinação da saúde da criança. Tem-se considerado a educação da mãe e
a renda familiar como elementos básicos, por serem indicadores de recursos disponíveis e
conhecimento ou comportamento em relação à saúde da criança.
As crianças com paralisia cerebral também se desenvolvem, só que num ritmo mais lento,
contudo o seu desenvolvimento não é apenas atrasado, mas é desordenado e prejudicado, isso por consequência da lesão cerebral
(BOBATH e BOBATH, 1989). Portanto, como há
desenvolvimento, consequentemente ele pode ser influenciado por fatores de risco.
Dentre os fatores de risco, estão características familiares, que podem colocar as crianças
em maior risco para o seu desenvolvimento saudável. Dessas características podemos citar a
baixa renda familiar, baixa escolaridade dos pais, elevados níveis de estresse da família, baixos
níveis de suporte social, entre outros (FLEITLICH e GOODMAN, 2000; HALPERN e
FIGUEIRAS, 2004).
Bobath definiu a PC como sendo:
“[...] resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro, de caráter não progressivo, e
existindo desde a infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e
movimentos, associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro quando
ainda é imaturo interfere com o desenvolvimento motor normal da criança.” (BOBATH, 1979, p.
11)
Katherine e Ratliffe (2002, p.177) também definem o problema quando descrevem que
qualquer lesão no cérebro em desenvolvimento que cause dano permanente e não progressivo,
que afete a postura ou o movimento da criança é denominado paralisia cerebral.
A PC é igualmente designada como encefalopatia crônica não-progressiva, causada por
lesões ocorridas no encéfalo imaturo, em desenvolvimento, tendo como consequência problemas
de motricidade, do tônus e postura, com ou sem comprometimento cognitivo (FONSECA, 2004;
GAUZZI e FONSECA, 2004). Estas lesões ocorrem nos diversos estágios de maturação,
surgindo antes de 3 anos de idade (KOK, 2003) e tendo causas pré, peri ou pós-natais (CORN,
2007)
Vários autores consideram o termo PC inadequado, uma vez que significaria o
estacionamento total das atividades motoras e mentais, o que não é o caso.
A criança com paralisia cerebral também se desenvolve, contudo, num ritmo mais lento.
Seu desenvolvimento não é só atrasado, mas segue um curso anormal. Todas as crianças com
paralisia cerebral atingem os seus marcos motores mais tarde quando comparadas com as
crianças normais, e tal constatação é independente da inteligência e grau de comportamento. Isto
não ocorre somente nas crianças com quadriplegia, mas também nas diplégicas e hemiplégicas
(BOBATH e BOBATH, 1989).
Dando continuidade à análise do mesmo autor, observa-se que as atividades motoras
anormais surgem quando a criança se torna mais ativa, isto é, quando ela se sentar, usar suas
mãos e braços, levantar, ou quando ela tentar andar, apesar de seus problemas físicos.
Segundo Lewis et al (1988), os riscos para o desenvolvimento podem estar presentes na
própria criança (componentes biológicos, temperamento e a própria sintomatologia), na própria
família (história e dinâmica familiar) ou no ambiente (nível socioeconômico, suporte social,
escolaridade e contexto cultural).
Observa-se que, quanto maior o número de fatores de risco atuantes, tanto biológicos
quanto ambientais, maior será a possibilidade do desenvolvimento da criança ser comprometido
(HALPERN et al, 2000; GRAMINHA, 1997).
         Considerando-se todo o exposto, pode-se compreender que a criança com paralisia
cerebral, além do impacto da própria lesão cerebral, é capaz de sofrer influências de fatores de
risco que interferem em seu desenvolvimento motor, levando a um comprometimento em suas
habilidades funcionais de vida diária e função social.
(Fonte:PARALISIA CEREBRAL E FATORES DE RISCO AO DESENVOLVIMENTO MOTOR:
UMA REVISÃO TEÓRICA
CEREBRAL PALSY AND RISKS FACTORS IN MOTOR DEVELOPMENT: A
THEORETICAL REVIEW
Elisângela Andrade Assis-Madeira¹
Sueli Galego de Carvalho²
¹Fisioterapeuta, Mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
²Psicóloga, Docente do Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento e Coordenadora de Pesquisa da
Universidade Presbiteriana Mackenzie


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